Perdoe Virgem Maria Por lhe tomar atenção, Envolvendo um coração Tão puro e tão adorado. Nesta miséria qu'eu trago, Que arrasto, é melhor que diga, Por esta terra inimiga, Onde nunca fui amado.
A Senhora bem se lembra Que nem sempre foi assim...
Embora não fosse em mim Que a fortuna tinha ninho, Eu bem que tive carinho E uma mulher cuidadosa Que me deixava de jeito. Um lenço branco no peito, A bombacha bem limpinha, Quando para a igreja eu vinha, No tempo qu'eu fui feliz.
Agora olhe pra mim. Veja esta roupa rasgada Qu'eu carrego com vergonha. Parece que a gente sonha, Quando vê que não é nada Prá dominar o seu vício Quando eu morava no pago As vezes tomava um trago No mais prá molhá a garganta E agora querida Santa, Até virei cachaceiro, Depois que bebo o primeiro Não há nada que me pare. E depois até que eu sare Vem me subindo a cabeça Toda essa vida passada E o rosto da minha amada Enxergo assim como em sonho...
Ó minha Nossa Senhora, Escute ao menos agora Um pedido que le faço.
Sei que a morte já me ronda Pela porteira do rancho... Até já vejo os caranchos Rodeando em volta de mim.
Reconheço o meu pecado, E quando tiver chegado Lá na fronteira do céu Vão me apontar outro rumo: - Ovelha com mancha preta Bota a marca na paleta Que só serve prá o consumo. -
Prá mim não há mais remédio, Não é prá mim o pedido. Sou índio chucro vencido Pelo vício aqui do povo.
Eu peço é pelo meu filho, Que abandonei lá no pago Quando a sina de índio vago Me arrebatou da querência.
Proteja a sua inocência... Não deixe que o coitadinho Siga este duro caminho Que está seguindo seu pai.
Que fique por toda a vida Grudado naquele chão, Que resista a tentação Com toda a força de macho, Que não morra como guacho Quando pará o coração. |
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