quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

POESIA - Ladrão de Felicidade

LADRÃO DE FELICIDADE
Salvador Fernando Lamberty

Num paraíso de sonhos
Marlene e José se amavam
Toda vez que se encontravam
Juravam eterno amor
Mas o destino traidor
Cruel, amargo e atrevido,
Jogou seus sonhos floridos
Numa cascata de dor.

Marlene, uma moça rica,
Um futuro tão brilhante
O seu olhar fascinante
Tornava a mais preferida
Por todos era querida,
Era meiga e tão formosa,
Como o florar de uma rosa
Na primavera da vida.

Enquanto José era pobre,
Vivia do seu trabalho.
Era uma gota de orvalho
No jardim da humanidade
Com tanta honestidade,
Fibra, ardor e respeito
Tinha um coração no peito
Feito de amor e bondade.

Num lapso de muitos dias
Ele foi correspondido,
Era um romance escondido
Mas tão cheio de pureza.
Naquela estranha beleza
Pelo amor que então sentia.
Esqueceu tudo o que tinha
Para enfrentar a pobreza.

Até que um dia Marlene
Foi chamada por seu Pai:
Minha filha você vai
Contar tudo o que se passa
Não quero que uma desgraça
Venha nos trazer tristeza.
Conte tudo com franqueza
Deixe de fazer trapaça.

Marlene baixou os olhos
Lágrimas pelo seu rosto:
"Papai se lhe dou desgosto
De joelhos peço perdão.
Eu sei que a tua intenção
E que eu viva pros estudos,
Mas eu amo acima de tudo
São ordens do coração."

Houve um olhar em silêncio
Como um sinal de revolta:
"- Eu prefiro vê-la morta
Deitada sobre um caixão
Frente a uma multidão
Rodeada de quatro velas,
Prefiro nunca mais vê-la
Se casar com aquele peão."

Foi como se um temporal
Desmoronasse um castelo.
Um coração tão singelo
Pra suportar tanta dor
"- Se na vida só há um amor
E me roubam a liberdade,
Um mundo de crueldades
Para mim não tem valor."

Quando foi tarde da noite
Ela foi sem ninguém ver
Ao seu amado dizer
A sua infelicidade
E envolvidos pela maldade,
Num olhar terno e severo
Por um copo de veneno
Partiram para eternidade.

No outro dia a alvorada
Era um painel de tristezas.
Enlutou-se a natureza
Quando foram encontrados,
Estavam bem abraçados
E inertes sobre o chão,
Ela trazia entre as mãos
Num bilhete este recado:

"- Papai, teu desejo foi feito,
Podes me ver sobre a mesa
Não lamentes de tristeza,
Nem chores a infelicidade.
Fiques com tua vaidade,
Teu orgulho amaldiçoado
E o remorso de ter me roubado
A vida e a felicidade.

Diga a mamãe que lá do céu
Eu vou sentir a falta dela.
Entregues um beijo a ela
E diz pra me perdoar.
Talvez ela vá chorar
Pois parto sem dizer nada,
Já que aqui não tem morada
Pra quem aprendeu a amar."

Este foi mais um romance
Que o tal destino exauriu.
Duas flores que pelo frio
Secaram ao rigor do vento.
Com linhas de pensamento
Fornou-se um livro de ensinos,
Escrito pelo destino,
Com letras de sofrimento.

Que isso sirva de exemplo
A muitos pais de família,
Que fazem de suas filhas
Objetos de ambição.
Essa dramática lição
Mostra ao povo interesseiro.
Que o orgulho e o dinheiro
Não mandam no coração.

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